Foi distinguido pela Academia de Produtores Culturais com o Prémio Natércia Campos para Melhor Produtor Cultural. É fundador do Teatro do Bairro, juntamente com o encenador António Pires, e criador da produtora de cinema Ar de Filmes.
O Teatro do Bairro no coração do Bairro Alto é hoje lugar essencial do roteiro cultural da Lisboa e tem uma sala com capacidade para 110 lugares sentados, 80 em auditório retráctil e os restantes em situação de frisa. Como nasce a companhia Teatro do Bairro?
Havia a ideia, enquanto companhia, de encontrarmos um espaço que fosse a nossa casa e que permitisse desenvolvermos o trabalho que já desenvolvíamos em teatro de forma diferente.
Onde estavam antes?
Não tínhamos espaço. Funcionávamos como grande parte das companhias quando emergem, e algumas continuam nessa configuração, em que fazíamos parcerias com produções. Candidatávamo-nos a projectos pontuais e com esse apoio procurávamos parcerias, no CCB, durante muitos anos, parceiro em diversas peças, sobretudo no Teatro Municipal São Luís, na altura em que era o professor Salavisa director, e também no Teatro Nacional São João, em diversas parcerias. Esta era uma forma diferente de desenvolver a ideia de companhia e o nosso trabalho. Quando se propõe um projecto a um produtor não se faz apenas o projecto que se pretende, faz-se o projecto que se pretende e que é apelativo ao outro lado. Havia, por isto, esta ambição de criar uma casa que fosse um laboratório que nos desse continuidade e liberdade para desenvolvermos o trabalho da forma que pretendíamos. E depois a ideia da âncora. As pessoas saberem onde encontrar o teatro que nós estávamos a desenvolver.
Quando conheceu o José Manuel Gonçalves Pereira já andavam à procura de uma sala para o Teatro?
Andávamos à procura e já tínhamos feito contactos com a Câmara Municipal. A câmara, ao longo dos anos, foi distribuindo espaços por companhias independentes, mas a verdade é que as sugestões que nos deram não eram interessantes, ou chegávamos atrasados e já havia outros objectivos para esses espaços.
Até que um dia, quando estávamos à procura, não de um espaço de teatro porque era mais difícil, mas de um espaço para ensaiarmos, e nós tínhamos um escritório aqui no Príncipe Real, chegámos até à Interpress e ficamos encantados. Conhecíamos vagamente o espaço, tínhamos visto lá as exposições do Alexandre Farto (aka Vhils), mas achávamos que o objectivo não era o de espaço artístico. Pensávamos que aguardava outro tipo de intervenção e provisoriamente era possível desenvolver este tipo de acções. Mesmo assim, perguntei ao eng. Gonçalves Pereira se havia interesse em desenvolver um projecto com objectivos mais alargados. Foi então que tive a primeira conversa com eng. Gonçalves Pereira e ele mostrou-se receptivo a uma proposta estruturada que se enquadrasse num âmbito artístico consistente. Era exactamente o que nós pretendíamos, e houve logo um encontro de interesses relativamente ao que podia vir a ser o espaço.
Entendo que para chegarem ao que é hoje a sala de espetáculos existiram constrangimentos e potencialidades que tiveram de ser ultrapassadas e aproveitadas. Como se realizou a reconfiguração feita pelo arquitecto Alberto Souza Oliveira?
O arquitecto Alberto Souza Oliveira é o meu pai.
Parabéns porque o projecto arquitetónico é muito bonito. Há umas fotografias da sala de teatro, no site da trienal de arquitetura, que mostram bem o bom resultado.
Obrigado. A minha família é uma família de arquitectos. O meu avô é arquitecto, a minha mãe é arquitecta, a minha irmã é arquitecta, o meu pai é arquitecto e por isso toda a vida estudei nos ateliers do meu pai. Quando era miúdo e estava de castigo porque não estudava, tinha de ir a seguir às aulas para o atelier do meu pai, onde se foi estabelecendo uma relação próxima entre nós.
Recordo-me, que o meu pai fez um projecto, a reabilitação no cinema São Jorge, que começou por iniciativa minha. O São Jorge estava fechado por causa da climatização do espaço, era muito caro colocar ar condicionados e a sala era impossível de utilizar. Então fizemos uma proposta conjunta para tentar reabilitar o São Jorge. Na altura achei que o São Jorge só com cinema era difícil de rentabilizar, e por isso a proposta contemplava teatro e cinema. Desenvolvemos pela primeira vez esta ideia da polivalência do espaço. Um espaço que se pudesse transformar. Não para a sala grande do São Jorge, como é evidente, mas para as salas pequenas. Desenvolvemos a proposta, mas esta não foi para a frente, e o meu pai ficou com o projecto. Acabou por resolver a questão da climatização do São Jorge, até de forma inteligente, solucionando a parte da cobertura que era o principal foco de calor na sala principal, mas a parte da programação não foi para a frente. Quando apareceu a oportunidade de sala na Interpress já havia este projecto.
Houve duas pessoas vitais na existência do Teatro do Bairro. Uma foi o eng. Gonçalves Pereira, que foi uma pessoa extraordinária e que investiu no projecto. Na altura estávamos a viver uma crise, com a intervenção do FMI havia dificuldade na obtenção de crédito, e o eng. disse-nos, “Eu vou a jogo consigo, trabalhamos no projecto, eu comparticipo no investimento das obras”. Foi uma pessoa fantástica, tanto que não considero o meu senhorio, mas um parceiro nesta aventura. E o meu pai. O meu pai queria muito fazer o projecto e disse “Vamos para a frente”. Nós entregamos-lhe um contrato-programa no qual a premissa era a de uma sala que se transformasse. Como companhia ainda com apoios não muito altos, era muito importante rentabilizar o espaço ao máximo. Então havia a ideia de ser um espaço total, que tivesse tanto teatro, como cinema, como dança, concertos e que houvesse a mutação permanente do espaço. Que um bar pudesse ser uma coisa que fosse exploratória, não podíamos esquecer que estávamos ancorados no Bairro Alto e que isso era parte da nossa existência.
A máquina rotativa, que ocupou o espaço, imprimiu os jornais lisboetas Diário Popular, A Bola, Record e Correio da Manhã, entre 1942 e 1992. Este é um edifício com uma história importante.
O meu pai, o Alberto Souza Oliveira, propôs um espaço com uma ligação afectiva ao espaço anterior. A reabilitação de toda a obra foi um puzzle de peças, quase como um lego, onde ele desmontou todo o ferro que existia e voltou a compor. As escadas fazem parte de um passadiço que existia anteriormente. E isso sempre nos agradou muito porque a memória do anterior espaço era preservada. A ideia da rotativa que tinha estado lá acabaria por ficar sempre ligada ao espaço.
Como caracteriza o espaço?
O que o espaço tem por trás é principalmente a ideia de uma bancada retrátil que pode recuar e criar as várias configurações que precisamos na sala. Ora plateia de 100 lugares para fazer teatro, ora retraída para concerto, por exemplo.
Durante anos e anos tivemos uma configuração tipo concerto, ou espaço de dança, aliás esteve mais tempo assim. Mas, como fazer teatro era o nosso projecto, o teatro criou raízes e sempre que não tivemos necessidade financeira de sobreviver esticando para as noites, a plateia estava aberta. Também, a própria companhia assegurava a parte do bar, mas o trabalho era muito violento, as pessoas trabalhavam à noite e depois de dia tinham outras responsabilidades. Foi sempre nosso objectivo erguer o teatro através destas multifunções. Hoje, fazemos muito pontualmente isso, mas acontece ainda.
Resumindo, há três tipos de configuração: o de plateia que serve sobretudo o teatro, mas que pode servir cinema. Uma configuração onde a plateia recolhe e colocamos mesas e cadeiras, ao que chamamos café-teatro, ou café-concerto, e uma terceira onde está tudo recolhido com espaço para concertos em pé, noites dançantes, o que pretendermos.
Esta é qual?

Essa é a opção recolhida. Há também outra recolhida, só que pomos mesas e cadeiras e a lotação fica reduzida ao número de lugares das mesas, o que funciona muitíssimo bem e às vezes é utilizada para concertos mais intimistas, lançamentos de livros. Nestes, preferimos não utilizar a plateia porque fica um ambiente mais `frio´. Era esta ideia de que transformaríamos o espaço em 15 minutos e mudávamos a cara.
Outro aspecto importante do espaço é a ideia da black box. Quando se tem um espaço relativamente pequeno a black box garante-nos a transformação permanente. Isto é, com a caixa preta damos as cores que quisermos, colocamos quadros, por exemplo, é a ideia de que o espaço visual pode transformar-se no que quisermos.
E o bar, está aberto no dia dos espetáculos?
O bar está aberto no dia dos espetáculos grosso modo, até um pouco depois das peças terminarem. Mas, acabámos por nunca desenvolver esta parte. Não é necessário. Houve uma altura que havia a intenção de darmos a concessão do serviço de bar a terceiros, mas o espaço é relativamente pequeno e não é esse o nosso foco. O nosso foco é aquilo a que chegámos neste momento, onde temos a abertura de portas o ano inteiro com prioridade no teatro. Temos outros eventos de cinema, ainda este ano o festival Lefest do Paulo Branco, uma parte, vai decorrer aqui. Sempre fizemos estas parcerias com outras entidades, e funcionam bastante bem.
Se não estou em erro, em 2010 começou a obra de reconfiguração da antiga sala da rotativa para a sala de espetáculos do Teatro do Bairro. Em que data abriram portas?
Foi em 2011. Inaugurámos a 3 de Março com a peça “A vida de Artista”, que esteve patente até dia 26 Março de 2011.
Foi uma obra relativamente rápida para a sua envergadura?
Foi um ano. Uma obra para nós longa porque um ano, para a estrutura frágil que éramos, com investimento em obras, ainda sem retorno, a pagar as rendas como era naturalmente nossa responsabilidade, foi muito extenso. Para quem vê hoje acha que foi rápido. E exactamente pela necessidade de viabilizar o projecto, a proposta do arquitecto não era demasiado complexa.
Falando de si, o sonho de concretizar no teatro e no cinema sempre esteve lá ou foi nascendo à medida que caminhava e era inspirado por aqueles com quem se foi encontrando, desde que se formou na Escola Superior de Teatro e Cinema – João César Monteiro, Manoel de Oliveira, José Álvaro de Morais, Teresa Villaverde, Fernando Lopes, Paulo Rocha, ou Alain Tanner?
Em miúdo era um apreciador de cinema, ia muito à Cinemateca Portuguesa. Mas, confesso que nem sequer sabia que havia um curso de cinema. Houve um dia em que o meu pai chegou a casa, ele vivia ali no Príncipe Real e era vizinho do cineasta António Reis, e sugeriu esse curso. Eles iam ao mercado ao Rato e depois encontravam-se no café da Cister à conversa, e um dia, o meu pai que dava aulas nas Belas Artes, na faculdade de Arquitectura, e o António Reis na Escola de Cinema, decidiram trocar. O António Reis foi dar uma aula a Belas Artes, e o meu pai à Escola de Cinema, e assim ficaram a conhecer-se melhor e criaram uma ligação. O meu pai ficou entusiasmado e veio-me com esse desafio “Porque não vais lá ver os cursos de admissão na Escola de Cinema”. A partir daí apareceu esta ideia de ir para cinema. Depois tudo é uma consequência. Faço a Escola de Cinema e claro tenho a ambição de um dia fazer cinema, começo como técnico, assistente de produção, fui fazendo às várias coisas. Durante muitos anos trabalhei com produtores que me marcaram, o António da Cunha Teles, sobretudo o Paulo Branco, com quem trabalhei alguns anos, e outros produtores, mas com esta ideia de vir a ter a minha produtora.
Curiosamente já tinha uma estrutura (Ar de Filmes), mas usava para efeitos contabilísticos, ainda não tinha desenvolvido nenhum projecto de cinema. Até que o António Pires, com quem já tinha amizade, lança-me o desafio “Porque não avançamos com teatro em vez de aguardares pelo cinema”. E foi assim que começou o projecto de teatro da Ar de Filmes, que tem um nome que sugere ser uma produtora de cinema, mas na verdade os seus primeiros passos são em teatro.
O teatro foi um amor novo. Como produtor estava mais ou menos habilitado a fazer teatro, mas também cinema, claro. Não da maneira que hoje faço a produção de teatro, mas com capacidade de gerir dinheiros públicos e fazer esse percurso. O teatro tornou-se uma paixão tanto como o cinema e fui desenvolvendo as duas coisas em paralelo com alguma energia, o que resultou em sermos hoje uma estrutura mais ou menos única. Não há nenhum caso de uma estrutura que tenha concretizado com teatro e cinema de uma forma regular, como nós o fazemos.
Em termos de programação, é o Alexandre que a faz? O seu trabalho de produção está centrado em três autores principais: João Botelho no cinema, António Pires no teatro e Luísa Costa Gomes na escrita, mas fazem muito mais. Como é feita a escolha do que deve vir à cena e ao ecrã?
O teatro tem duas vertentes, uma é a programação outra a companhia. Na companhia planeamos em conjunto, eu e o António Pires.
Qual é a diferença entre a companhia e a programação?
A companhia são as criações próprias que fazemos, para a sala do Teatro do Bairro e para outros sítios, o Convento do Carmo, ou o CCB, o São Luís. Isto são as criações da companhia.
Depois existe um outro braço da companhia que é a programação de acções aqui na sala do Teatro do Bairro quando não estamos em cena. Programamos outros eventos, concertos, festivais, etc. Essa programação é feita essencialmente por mim.
A programação da companhia é aquilo que vamos fazer no teatro nos próximos anos. Para se entender a companhia, o António Pires é o encenador e isto resulta da dedicação que tenho ao António, ao trabalho dele e à admiração artística por ele. Relativamente ao plano é um trabalho conjunto, que determina os caminhos que a companhia toma, independentemente do António ser o encenador. Em conjunto vamos decidindo os caminhos que vamos tomar em relação à escolha de textos. Este ano estamos a comemorar os 20 anos de teatro. Esta relação resulta de 20 anos de amizade e de muita cumplicidade, para além do trabalho em si. Estes caminhos que a companhia vai tomando resultam do que nos vai estimulando em conjunto ao longo do ano, dando-nos ideias para os próximos anos. O que nos influencia, uma determinada exposição, determinada peça que vimos, por exemplo no Festival de Almada, que é um festival de teatro importante, algumas viagens internacionais, vamos ao estrangeiro em conjunto e temos ideias. Funciona criativamente.
Sozinho faço a parte da programação dos acolhimentos, juntamente com a Frederica, que é o meu braço direito para o teatro, relativamente às questões de programação. E relativamente aos destinos artísticos da companhia e às grandes decisões das peças que vamos fazer é um trabalho conjunto. Se quisermos eu sou produtor e o António Pires é o director artístico da companhia.
O Alexandre tem uma proximidade muito grande à Luísa Costa Gomes e ao João Botelho?
A Luísa Costa Gomes é uma das maiores escritoras portuguesas e trabalha connosco directamente na área do teatro. Com ela fizemos uma série de criações com textos originais, grande parte das traduções são feitas pela Luísa e sobretudo a Luísa partilha connosco as escolhas de textos que faz. Algumas das opções de futuro resultam de desejos da Luísa, de fazer determinada tradução ou de um texto que criou. Temos um apoio quadrienal e vamos decidindo a programação de futuro, sempre resultado do encontro de ideias minhas e do Pires, convidando a Luísa, em diversos momentos, a fazer parte.
Com o João Botelho vocês fazem a produção de alguns filmes dele?
Digamos que o João Botelho está para o cinema como o António Pires está para o teatro. Produzi os últimos 15 filmes dele, ou 16, entre documentários, longas e curtas. Também tenho uma dedicação ao João, que é uma pessoa por quem tenho admiração. Cá está, a minha forma de produzir não se limita só ao trabalho da relação profissional entre produtor e autor, estende-se também numa relação de amizade, nos desejos e nos encontros. Quando é assim, criam-se relações mais extensas.
Há uma coerência muito grande em termos da qualidade dos textos, dos autores. Todas estas pessoas que entram quer no universo profissional quer pessoal estão em consonância, e na minha opinião isso passa para fora.
Digamos que consegui chegar a uma zona em que posso dar-me ao luxo de produzir sobretudo os autores que me interessam e que têm afinidade comigo, na admiração que têm pelos textos clássicos e pela importância do texto em si, o que se tem vindo a perder. Para nós dá-nos independência poder trabalhar com eles e apoiá-los.
Muitos autores trabalham directamente com os seus próprios textos, o que não quer dizer que seja menos interessante, é diferente. Só que para mim enquanto produtor é desinteressante ver como os posso apoiar, porque muitas vezes partem de pontos de vista muito pessoais. Então é muito difícil um produtor apoiar artisticamente a não ser criando os meios para eles fazerem. O meu percurso enquanto produtor passa por um certo envolvimento, que é muito mais fácil a partir de um texto clássico que é neutro, que foi escrito por outro autor e que nós conseguimos ler, eu e o autor com quem estou a trabalhar, com um certo afastamento e tentando encontrar a dramaturgia à luz do que estamos a viver nos dias de hoje. Por isso nunca consideramos que é uma coisa antiquada, fazemos o Romeu e Julieta em cima da guerra da Ucrânia e da Palestina, e não faremos novamente igual. Há dez anos faríamos certamente de outra maneira, estes textos são contaminados pelo presente e consideramo-los sempre contemporâneos, sobretudo pela qualidade de escrita. O que nos interessa não são as historiazinhas que estão dentro destes grandes textos, mas sim a qualidade do texto e a dimensão literária. São textos que mesmo quando escritos para teatro comportam uma dimensão literária e filosófica muito acima da média, por isso atravessam 500 anos, como é o caso de Shakespeare.
Este ano são os 20 anos, já começaram as comemorações?
Havia esta ideia de uma grande co-produção, que foi a Mãe Coragem. Teve estreia no CCB, foi uma das peças de fecho do Festival de Almada e depois foi para o Convento do Carmo e esteve lá quatro semanas. Foi um grande investimento e a peça chave das comemorações. À parte disso temos previsto no final do ano a edição de um livro comemorativo dos 20 anos da companhia, onde se revê e estão reflectidas todas as produções que fizemos, contamos a história, e incluímos textos relacionados com os autores, nomeadamente o António Pires, a Luísa Costa Gomes e o João Mendes Ribeiro que é o arquitecto cenógrafo que tem trabalhado connosco ao longo dos anos e que está intimamente ligado à companhia.
Obrigado Alexandre. Votos de que a sua missão na cultura portuguesa continue a dar estes bons frutos.
Exposição “20 anos da companhia de teatro, 20 anos de amizade” de 3/10 a 10/11.
Mais informações Ar de Filmes. Teatro do Bairro